terça-feira, 26 de abril de 2011

COMO INICIAR (BEM) UM GRUPO DE QUARTETO VOCAL

Introdução
Como se pode observar, um quarteto de vozes que desejam louvar ao Senhor é, a priori, composto por vozes solistas, mas, acima de tudo, por crentes que têm em seus corações a vontade de engrandecer O Altíssimo com o mais lapidado e sofisticado tipo de grupo vocal. Para que esta formação seja a mais duradoura possível, alguns cuidados são necessários para que não se torne uma constante “dor de cabeça” a convivência entre os componentes, assim como a sua articulação interna.
Desta forma, enumeramos aqui tópicos relevantes acerca deste tema: compilação que é o produto de experiências do dia a dia associadas a uma pesquisa mais elaborada com especialistas.

1 Formação Técnica
            Nem sempre é possível se ter músicos profissionais em um quarteto de vozes em cada igrejinha de bairro, mas é essencial que ao menos o líder tenha razoáveis conhecimentos de teoria musical (dentre estes algo sobre história da música sacra Negro Spiritual sempre é bom), solfejo, harmonia, um tanto de improvisação jazzística (fica difícil se não se conhece nada sobre Blues e outros aspectos comuns à raiz desse estilo de base negra), técnica vocal (não aquele bobo “besourinho” e “volaturinhas” mas sim um conhecimento razoável de morfologia vocal e psicodinâmica vocal, temas que trataremos logo adiante) e rudimentos de liderança (é improvável que um vento esteja a favor de um barco que não sabe aonde quer chegar já que o velejador se deixa dirigir por sua própria embarcação). Amados, o crente deve ser EXCELÊNCIA em tudo o que faz (já dizia a Bispa Ana Lúcia Rodovalho da Igreja Sara Nossa Terra): Louvar ao Senhor Deus e dizer que Ele recebe o que for desde que seja de coração é, no mínimo, mediocridade para com aquele que deseja de nós o MELHOR que possamos fazer: lembrem-se de que muitos por aí se especializam sem remuneração alguma só pelo prazer no que fazem, como é o caso de muitos que sabem nunca poder alcançar a fama com o que escolheram fazer mas o fazem com esmero e dedicação, e por que nós não faríamos pelo que nos deu VIDA, e VIDA com ABUNDÂNCIA?

2 A Escolha dos Componentes
            Inicialmente, é comum se pensar em formar o grupo com irmãos de maior afinidade pessoal, mas, deve-se lembrar que alguns requisitos são importantes ao realizar seleção para esta empreitada difícil. Levemos em consideração quatro aspectos básicos:
Testemunho – “Uma árvore se conhece pelos seus frutos”, já dizia o Mestre Jesus. Decorre de uma vida pautada na Palavra de Deus bênçãos que não se conseguem por maior que seja o esforço sobre a Terra. Como Noé faria a Arca sozinho? Porventura poderia Moisés enfrentar o faraó do Egito com um simples cajado e um porta voz? Elias conseguiria vencer os profetas de Baal somente com a sua retórica? Daniel e seus companheiros dariam exemplo a um reino inteiro só por um comportamento medíocre igual ao dos outros do lugar? Evidente é que não. Jovens (ou não tão jovens) de oração são bem vindos: procure os de comportamento reto e dos quais venha a se orgulhar, se esquivando sempre dos que não trariam contribuição alguma para o grupo: dê predileção aos compromissados com as atividades do templo e não com os murmuradores. Mas, caso haja um murmurador que se enquadre nos próximos requisitos, faça um teste! Pode ser que a rebeldia seja pura falta de oportunidade.
Capacidade – Após cotar os de testemunho ou de potencial, é o momento de afunilar para os que reúnam alguns requisitos no sentido da capacidade, pois basicamente o quarteto é formado por vozes solistas. Falamos aqui de dois aspectos. O primeiro é a morfologia vocal, onde se separará cada voz conforme a competência por se estender o registro vocal nos graves e agudos: os baixos devem ser de voz bastante metálica, mas com uma certa possibilidade de “aveludamento” e, evidentemente, bastante graves (chegando, se possível, ao dó) e sem necessidade alguma (pelo menos de início) de dominar bem sua extensão aguda (algo a se trabalhar ao longo do canto uníssono, que é mais difícil de cantar que o dividido, ao contrário do que muitos pensam); já o barítono é pura capacidade de harmonização e aveludamento: consideramos pois a voz mais difícil de se cantar em termos de desenho musical uma vez que pode ser bem diverso do desenho das demais vozes por “cobrir buracos” da harmonia, de modo que este naipe deve ser assumido por um componente capaz de cantar melodias complexas com segurança e também que esteja disposto a trabalhar extensão relativamente maior (em número de notas do registro) que qualquer companheiro; o 2º tenor tem a voz das mais características de solo, uma vez que normalmente comporta a melodia principal da peça: a peculiaridade neste caso, é um domínio de sua capacidade de intérprete do que se canta, valorizando e enriquecendo o que se tornaria bem monótono se fosse cantado de forma automatizada; já o 1º tenor representa a incisão e o brilho (pelo menos em predominância) que se exige no efeito da música como um todo, de modo que é sempre ocupado por um indivíduo de voz das mais leves e ligeiras possíveis, com um robusto potencial de ataque nos grandes agudos, às vezes só se diferenciando do 2º tenor pelo maior metal que comporta.O segundo é a possibilidade do canto em conjunto, coisa que nem todo solista é capaz de fazer: já passamos por muita coisa desse tipo, onde o solista conseguia cantar bastante bem individualmente, mas não tinha noção de conjunto e desafinava em grupo, porém esta ideia de conjunto não é condição sine qua non para se cantar em quarteto caso o regente do grupo seja bom e paciente, tendo em si mesmo capacidade de identificar essa deficiência do futuro componente e ensinar o caminho certo. O terceiro e último é o conhecimento técnico, pois tendo reunido em seus candidatos aqueles que se destacam pelos dois anteriores, prefira também que seja ele conhecedor do que faz: pense que em uma entrevista de emprego para um trabalho meramente técnico e que tenha uma pessoa de nível técnico e outra de nível superior muitas vezes um psicólogo escolhe a de nível superior não pelo conhecimento, mas pelo interesse de ir  mais adiante no aprofundamento do seu ramo de atuação podendo contribuir mais para a corporação.
Talento – Pois é: quarteto não é para todos, mas para quem quer e busca com afinco. Porém, de início, quanto mais talento melhor. Não perder de vista que este talento do qual se fala é, stricto sensu, o que o dicionário fala sobre o tal: “talento sm 2. Dom natural ou adquirido (extraído do Aurélio Escolar)”. É você observar a forma como naturalmente algumas pessoas parecem ter intimidade inata com o microfone e o público, coisa que não se aprende fácil em academia alguma, visto que as faculdades formam muitos cantores bacharéis que não têm esse “clic” que alguns têm como algo autóctone.
Interesse – Também levado “pelo pé da palavra”, podendo ser substituído por Compromisso. Caso o líder encontre alguém assim, interessado e ao menos dono de um dos outros três, já está meio caminho andado para o bom andamento de seu grupo vocal.

3 Rotina de Atividades
3.1 Repertório Inicial
            Escolhida a formação primordial do quarteto, chega a hora da escolha do repertório. Será sempre interessante não começar com muitos solos e optar por hinos de formato mais “quadrado” (harmonias em terças, quintas e oitavas) ou mesmo mais breves em geral, fugindo o quanto possível de hinos muito elaborados. Começar com hinos complexos leva tempo e fatiga os ensaios, além de criar expectativas muito grandes a respeito do dia de “estreia”. Aqui damos algumas dicas de hinos bem interessantes para começar: Avante Eu Vou (H.C. 310 arranjo para quarteto); Breve Jesus Voltará (Arautos do Rei, Se Ele Não For o Primeiro); O Sabão (Athus, Acappella Collection); Tu Tens de Estar Pronto (Grupo Integração); O Amor Que Pode Tudo (Kades Singers adaptado de Athus, O Amor Que Pode Tudo); Eu Vou Ao Lar (Arautos do Rei, Se Ele Não For o Primeiro).
            A grande dica é sempre ter o demonstrativo original para estudar a propriedade de cada voz no hino. Os play-backs só devem ser incluídos após alguns ensaios de sonoridade, pois só influenciam ao dar o tom inicial e na velocidade, mas nunca deve se deixar de ensaiar com o instrumental quando estiver perto de cantar, pois é essencial a identificação com o tempo do autor: jamais fugir disso, pois o contrário é fatal.
            Mais algumas dicas de repertório e mesmo sua progressão podem ser conseguidas no site do 4 tons, que já está na guia de nossos links.
3.2 Ensaios
            Sempre é preciso orar antes de qualquer ensaio. É bom lembrar que o Dono da obra, o que nos dá até a vontade de louvar se alegra daqueles que se apresentam a Ele e sabem que não é para autopromoção que se louva a Deus em quarteto ou órgão algum (pelo menos é o que deve ser...). Primeiro louve, depois agradeça a estada ali (já é uma GRANDE bênção ter quatro solistas juntos) e então peça a Ele por cada componente em particular (suas famílias, angústias e vidas) e também para que não se envaideçam desta obra (este grupo é muito visado e de resultado rápido, ocasionando muitos “elogios” que devem ser administrados com sabedoria e cautela), pois o homem semeia, mas a Palavra diz que “o crescimento vem de Deus”.
A rotina inicial de ensaios deve ser intensa: trabalhos iniciais de respiração, vocalização (se preciso) e formação de acordes (essencial). Tenha sempre uma ou duas músicas um pouco difíceis para ensaiar como “estudo” (a dificuldade vai “forçar” o cérebro dos componentes para que eles estejam mais “ligados” no trabalho de conjunto): um.a dica de estudo legal que trabalha afinação, respiração, controle e conjunto é Calma, Mansa, Serena (Arautos do Rei, Acapella).
            Procure ao menos dois dias na semana para ensaiar e nunca deixe de fazer, fazendo mudança dos dias se preciso mas não deixando o grupo longe por mais de quatro dias (a mente perde a noção de unidade depois disso).
            Comece a ensaiar e, se possível, ensaie partes do começo ao fim e não menos que três músicas ou partes por ensaio (o cérebro “cansa” se recebe a mesma tarefa repetidas vezes e cauteriza o erro, melhor será deixar ele processar a melodia no subconsciente, passando à outra música). Caso se erre, não pare sempre: faz parte e, pelo menos, se pega o tempo e a noção de partes com os “links” delas entre si.
3.3 Saídas do Grupo
Louvar a Deus através deste estilo é sempre boa novidade nas igrejas do Brasil, mesmo nos templos matriz das denominações (até para os Adventistas do Sétimo Dia). Vejamos algumas normas de etiqueta a se seguir:
Acompanhantes – Normalmente é comum os membros de quartetos terem esposas, filhos ou namoradas à tira colo, mas é preciso levar em consideração o princípio do bom senso: nem sempre a congregação pode arcar com a família inteira. Às vezes é preciso entender que os irmãos só podem pagar pelo translado do grupo, ou seja, a “plateia” ficará em casa. Sempre é bom lembrar aos que acompanham o grupo que se trata da Obra do Senhor e não de um “passeio” a outro templo. Ordem e decência são essenciais características de um cristão que anela por prestar culto racional a Deus.
Montagem de Som – Ao chegar ao templo, cumprimentos essenciais com humildade cristã (por mais conhecidos que sejam) devem ser dados aos principais e daí se procede passagem do som. Nunca deixar testes de sonoridade para última hora: eleger hinos de teste de som que possam ser usados sempre, melhorando dia a dia a equalização fora de casa (congregação da qual o grupo faz parte).
Plano “B” – Mesmo quando o som estiver bom e o play-back funcionar na hora da passagem de som, é sempre bom ter um “ás na manga”. Suba ao púlpito com um ou dois hinos a capela já em mente e bem ensaiados, pois garantimos (por anos de experiência) que o que puder dar errado dará e o que não se imagina dar errado mais ainda. Tentou, não deu... respira-se fundo, sopra-se o diapasão, dá-se as alturas devidas e... vamos assim mesmo!
3.4 Compartilhamento de Material
            Humildade e cooperação: como este grupo normalmente é formado por entusiastas das igrejas e não por ordem ministerial específica que obrigue a se formar quartetos, é normal que cada encontro de quartetos, seja oficial ou ocasional, torne-se um momento de confraternização geral, mesmo quando há pequenas “rivalidades” sadias até certo ponto. Desse modo, torna-se essencial a troca não só de números de telefones para convites ou contatos futuros, mas também de favores em nome da diversificação do repertório de cada um.
            Vou contar fato curioso: certa noite, um de nossos componentes estava cantando em um outro quarteto que não o nosso, porém bem mais conhecido e tradicional. Lá na igreja, um coral masculino (que também tem membros de quarteto) cantou um hino muito interessante que já conhecíamos, mas do qual não tínhamos partitura. O dirigente do quarteto famoso, através da sua amizade com o outro dirigente do coral, conseguiu a partitura. O nosso componente e o dirigente do quarteto famoso levaram a partitura até a sua casa do nosso componente e fizeram cópia para nosso quarteto e o quarteto famoso; porém, o dirigente do quarteto famoso disse ao nosso componente: “– O dirigente do coral disse que esta partitura é preciosa e não deve ser entregue a muitos grupos: portanto, não dê esta partitura para nenhum grupo a mais.”. Nosso componente até entendeu, mas, na mesma noite, ao acessar a internet como de costume, terminou por encontrar o álbum completo de partituras do qual esta “preciosa” fazia parte, já em alta definição e pronta para ser baixada (e foi o que ele fez: baixou tudo).
            O que vai ser diferencial no grupo com relação aos outros não é estar de posse de material raro (partituras, play-backs, demonstrativos, vídeos etc.), mas sim a qualidade do trabalho vocal esmerado em busca da perfeição sonora e da riqueza no improviso e adaptações essenciais à interpretação de peças para quarteto. Em suma: divida material, pois amanhã dividirão com você também, sem dúvida.
            Se você e seu grupo são já bons de canto, procurem se integrar tanto a novos grupos como a grupos tradicionais, pois não se sabe no futuro de qual deles se precisará mais. Às vezes grupos novos podem fornecer material vocal que pode ser incorporado ao seu, uma vez que a rotatividade de componentes pode ser fatal para seu grupo. Esteja atento às mudanças.

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